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A improvisação como técnica musicoterápica.


INTRODUÇÃO


Com o objetivo de apresentar um estudo biográfico reflexivo quanto às técnicas musicoterápicas, esse trabalho apresenta pensamentos sobre a técnica improvisacional em musicoterapia.

De forma geral, a musicoterapia é definida como o uso terapêutico do som e seus elementos por um musicoterapeuta formado. Seu processo dar-se pelo conjunto de técnicas e métodos que variam conforme a abordagem adotada, objetivo da terapia e as necessidades do cliente ou grupo atendido. Segundo Bruscia (2000), as experiências utilizadas são audição, recriação, improvisação e composição, podendo ser aplicadas conjunta ou separadamente.

A improvisação é uma técnica expressiva que possibilita a comunicação e interação, entre terapeuta – cliente, buscando o desenvolvimento de habilidades, potencialidades e/ou reabilitação de funções do cliente, envolvendo-o dentro de um processo significativo, exteriorizando espontaneamente seu ser.

Sobre essa técnica o texto discorre, apresentando panoramicamente definições, aplicações e ganhos em sua utilização no setting terapêutico.


1 DEFININDO IMPROVISAÇÃO


“Num sentindo muito amplo, improvisar é sinônimo de ‘brincar’ musicalmente”. (BARCELLOS, 1992, P. 26).

Em educação musical, a improvisação é vista “como uma das principais ferramentas para a realização do trabalho pedagógico - musical”. (BRITO, 2001, P. 18). A criatividade é importante ferramenta educativa, pois integra professor e aluno, por meio da experiência musical e do conhecimento prévio trazido pelo aluno à sala de aula. Para Gainza (2010, P. 14), “a improvisação como técnica de participação e aprendizagem, é um processo maior que os professores deveriam explorar mais”, pois a improvisação, sensibiliza o aluno integrando elementos externos à música. No processo de improviso o aluno se expressa, relaxa, gratifica-se ou aprende. “As técnicas de improvisação introduzidas adequadamente ao longo de todo o processo da educação musical, contribuem para que se alcance a tão almejada integração do fazer com o sentir e, o conhecer”. (GAINZA, 1983, P. 10).

Se tratando de performance musical, improvisação é a criação em tempo real, ou, o produto do momento, “a improvisação não é o passado, nem o futuro, mas sim o presente”. (MONZO, 2016, P. 13). Sloboda (2008, apud MONZO, 2016, P. 13) afirma: “a improvisação, uma prática de performance, é um exercício de composição em tempo real. Este é o caso especial em que o compositor também é o executor”. A espontaneidade presente na improvisação, não deve ser confundida como obra do acaso, na verdade, “é fruto de muitos fatores, não somente musicais, mas também, sociais, culturais, pessoais e específicos do grupo que se engaja numa prática deste tipo” (COSTA, 2003, p. 27). É resultado de um momento de liberdade, guiado por insights psicológicos, dentro de um território rítmico, melódico e harmônico, portanto, a improvisação “diz, significa, comunica alguma coisa”. (PAREUSON, 1997 apud MONZO, 2016, P. 21).

Em musicoterapia, a improvisação é uma técnica, para Barcellos, ou seja, “como o musicoterapeuta utiliza a parte material, prática, para trabalhar com o paciente, interagindo ou intervindo, na prática clínica e/ou terapêutica” (2008, P. 2), e, um método, para Bruscia, “uma etapa de qualquer procedimento que o terapeuta utiliza para dar forma à experiência imediata do cliente”. (2000, P.123). Bruscia a define como uma experiência vivida pelo cliente por meio da música cantada ou tocada, criada de forma melódica ou rítmica, sozinho ou em conjunto, utilizando-se da sua voz, instrumentos musicais e sons corporais.

Para Barcellos (1992, P. 26), “a improvisação se aplica a todo processo de desenvolvimento e pode promover a expressão e ‘descarga pessoal’”, proporcionando ao improvisador, um canal de comunicação com o mundo externo, permitindo um melhor conhecimento do indivíduo.

Na improvisação musical terapêutica, o diálogo está em primeiro lugar, já que ela é centrada no sujeito em ação. Os processos musicais são estabelecidos pela manifestação do “eu” do cliente, que é o “ser humano improvisador”, alcançando por vias verbais ou não, a expressão e flexibilidade psíquica. (RUDD, 1990, P. 97-101).

A aplicação dessa técnica requer do profissional (musicoterapeuta) o domínio da linguagem musical, apropriando-se dos elementos sonoro musicais como: ritmo, intervalo, timbre, harmonia; tanto para uma leitura clara do seu cliente, como para intervir de forma cooperativa na ação criativa do mesmo. Cabe ressaltar a inexistência de uma preocupação estética, já que o conteúdo expressivo deve ser livre e fluente para uma melhor apreensão do musicoterapeuta.

A inserção de letras nas improvisações é de extrema importância, “pois expressam sempre conteúdos internos que mais dificilmente seriam exteriorizados através da palavra”. (BARCELLOS, 1990 P. 28).

Bruscia (2000, P. 124-125), traça objetivos à serem alcançados com a aplicação da técnica, entre eles estão: estabelecer comunicação não – verbal e verbal; promover auto-expressão; desenvolver habilidades interpessoais; desenvolver a criatividade e promover a espontaneidade e capacidade lúdica, tendo o musicoterapeuta como mediador e facilitador no processo de fluência criativa.

Semelhante a uma conversa, a improvisação se desenrola com base em um roteiro ou de forma livre. No que se refere a improvisação terapêutica, pode ser aplicada de forma livre, o material musical parte integralmente do cliente; ou orientada (dirigida), o material musical é sugerido pelo musicoterapeuta.


2 APLICAÇÕES E GANHOS


A improvisação musical é frequentemente utilizado em modelos musicoterápicos como na Musicoterapia Criativa - Nordoff & Robbins - , que considera a música um canal expressivo desenvolvido desde a infância, e, na Musicoterapia Músico – Centrada -Brandalise. Em ambos, o foco da improvisação está na música e na musicalidade do cliente nas sessões e na experiência conjunta.

Pesquisas apontam ganhos terapêuticos em crianças autistas que tiveram acompanhamento terapêutico empregando técnicas da improvisação musical, com contribuições no desenvolvimento de vínculo, expressão e musicalidade, corroborando a uma melhora na qualidade de vida desse público.

Gatino, Sarapa e Katusic (2012, apud FREIRE; KUMMER; MOREIRA, 2015, P.106), atestam quanto à criação musical proporcionar comunicação musical, trazendo melhorias em outros níveis comunicativos para essa população. Outros resultados relevantes citados na literatura são: melhoras na atenção social e na imitação, bem como diminuição de comportamentos indesejáveis como choro e estereotipias vocais. (WIGRAM; GOLD, 2006 apud FREIRE; KUMMER; MOREIRA, 2015, P.106).


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Na clínica musicoterapêutica a improvisação é uma técnica recorrente, trazendo ganhos significativos aos clientes com diagnóstico variados. Como em sua maioria, a clientela apresenta distúrbios de comunicação e de linguagem, o uso do recurso pré- verbal presente nas atividades de improvisação, possibilita uma melhor auto - expressão e elaboração de conteúdos internos.

Embora pareça uma atividade simples, a improvisação solicita do cliente habilidades nervosas complexas e uma capacidade de se perceber e perceber o outro, e, solicita do terapeuta uma compreensão do processo musical vivenciado pelo público atendido, num ambiente de movimentação musical livre ou direcionada.

Pesquisas apontam efeitos positivos em sujeitos atendidos, tendo o público autista correspondido substancialmente ao tratamento, pois, se observa o desenvolvendo de habilidades sociais e interpessoais nessa população.

A improvisação musical destaca-se na atualidade como uma possibilidade terapêutica ativa que expande a experiência humana, possibilitando através de processos musicais o diálogo do “eu” com o mundo externo e consigo mesmo, mediado por um profissional capacitado que o conduza ao autoconhecimento, desenvolvimento, organização e reabilitação.



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REFERÊNCIAS



BARCELLOS, Lia Rejane Mendes. Cadernos de Musicoterapia. Nº 1. Rio de Janeiro: Enelivros, 1992.

BARCELLOS, Lia Rejane Mendes. Sobre a técnica provocativa musical em musicoterapia. 2008. Disponível em: < http://biblioteca-da-musicoterapia.com/biblioteca/arquivos/artigo//2008%20rejane%20Sobre%20a%20Tecnica%20Provocativa%20Musical%20em%20Musicoterapia%20MT.pdf>.

BRUSCIA, Kenneth . Definindo Musicoterapia. Tradução: Mariza Velloso Fernandez Conde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.

COSTA, Rogério Luiz Moraes. O músico enquanto meio e os territórios da livre improvisação. São Paulo, 2003, 177f. Tese doutorado, São Paulo - Pontifícia Universidade católica de São Paulo, programa de estudos pós- graduados em semiótica. Disponível em: < http://www.bv.fapesp.br/pt/publicacao/7063/o-musico-enquanto-meio-e-os-territorios-da-livre-improvisaca/>.

FREIRE, Marina; KUMMER, Arthur; MOREIRA, Aline. Protocolo de atendimento de musicoterapa improvisacional músico – centrada para crianças com autismo. Revista Brasileira de Musicoterapia, ano XVII, nº 18, 2015, p. 104 – 117. Disponível em: http://www.revistademusicoterapia.mus.br/wp-content/uploads/2016/08/6-PROTOCOLO-DE-ATENDIMENTO-DE-MUSICOTERAPIA-IMPROVISACIONAL-.pdf >.

GAINZA, Violeta Hemsy de. La improvisasión musical. Buenos Aires, 1983. Tradução: A improvisação musical como técnica pedagógica. Equipe editorial da AAC. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/331825130/Gainza-sobre-improvisac-a-o# .

MARTÌNEZ, Elizabeth Carrascosa. Educação musical e contemporaneidade. Revista Espaço Intermediário, São Paulo, v. I, n. II, p 12-15, novembro, 2010. Disponível em: http://www.violetadegainza.com.ar/wordpress/wp-content/uploads/2010/12/entrevista-Violeta-Hemsy-AAPG-S%C3%A3o-Paulo1.pdf .

MONZO, Diogo Souza Vilas. Improvisação musical e um improvisador: a música sem fronteiras de Luiz Eça. 2016. 115f. Dissertação (Mestrado em Música) - Departamento de música,Instituto de artes,Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: <https://lookaside.fbsbx.]com/file/Dissertac_a_o%20-%20A%20mu_sica%20sem%20fronteiras%20de%20Luiz%20Ec_a.pdf?token=AWzTGvNrs42vE_mPMqU54ZDHikldnlYZCpJDGQQOh7r-rRR1M7-0cUzyHd3OtaKmqjcrsF29fssjoUseXEHM1HvwJi9QvHont6lqx2HYOESQfKPTbu7I9egOxb0e6zx7hCsqAox6zf0VU8-ZF4sLbhls> .

RUDD, Even. Caminhos da musicoterapia. Tradução: Vera Wrobel. São Paulo, Summus, 1990.

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