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AI, EU ENTREI NA RODA: a musicoterapia preventiva num grupo de crianças de 8 a 12 anos.


RESUMO: Considerando a relevância de ações terapêuticas, como a musicoterapia, na promoção da saúde, em especial na infância, o presente trabalho objetiva apontar melhorias alcançadas com a aplicação da musicoterapia preventiva em um grupo de 04 crianças, entre 08 a 12 anos, cujas atividades foram aplicadas em 07 sessões nos meses de outubro e novembro do ano de 2017, num espaço voltado para educação musical na cidade de Fortaleza (CE), como cumprimento da disciplina de estágio supervisionado da especialização em musicoterapia na Faculdade Padre Dourado. A discussão tem por embasamento teórico ALTSHULLER (1954), BARANOW (1999), BENEZON (1988), BRUSCIA (2000) e BARCELLOS (2013), e, as avaliações das sessões planejadas e aplicadas pelo estagiário. O relato surge com o intuito de compartilhar a experiência do estágio, apresentando a observação da prática musicoterapêutica, bem como, as reflexões quanto aos resultados obtidos com as ações traçadas pelo o autor. Sendo então constatada a importância da musicoterapia preventiva na promoção da saúde, bem estar e manutenção da qualidade de vida, com o público infantil em idade escolar.


Palavras chave: Musicoterapia Preventiva. Infância. Saúde.



1. INTRODUÇÃO


A educação musical foi a roda aonde dancei e cantei com crianças ao longo de mais de 12 anos de prática pedagógica. Agora, como estudante de musicoterapia, reconheci a necessidade de reaprender a dançar e a cantar. Tal qual os versos da cantiga infantil, assumi: “eu não sei como se dança, eu não sei dançar”. Um novo território exigia um novo olhar, e, a observação da prática pedagógica dos conceitos musicais deu lugar a observação dos benefícios do uso desses conceitos na promoção da saúde da criança.

O conceito de saúde na atualidade não é mais representado pela ausência de doenças, mas também pelo conjunto de práticas que promovam a qualidade de vida do indivíduo (RABELLO, 2010). A nova forma de pensar sobre saúde, inclui ações preventivas que garantam a manutenção do bem-estar, sendo as terapias complementares, como a musicoterapia, parte das inovações para um melhoramento da saúde da população.

Encontrando-se numa zona de vulnerabilidade, as crianças, também necessitam de assistência preventiva, pois, mesmo sendo uma grande parcela da população mundial, esse público não tem sido alvo de campanhas que visam promover a saúde, exceto na pequena infância, cuja concentração das ações preventivas se detêm a imunização biológica, através de campanhas de vacinação.

A musicoterapia preventiva age antes do adoecimento do organismo. “A musicoterapia é recente como ciência, porém, é utilizada desde a antiguidade de diversas maneiras como medida preventiva, paliativa e terapêutica” (DAMASCENO; et al. 2012, p. 85). Sua aplicação e benefícios proporcionam um olhar atento as questões terapêuticas na infância, tornando-se relevante a abordagem de aspectos quanto a utilização da música como mediador no processo de manutenção do bem estar infantil.

Buscando compreender os benefícios da musicoterapia preventiva na promoção da saúde da criança, o artigo relata a experiência da aplicação dessa modalidade e os princípios associados a ela em um grupo de 04 crianças, de 8 aos 12 anos, em 07 encontros terapêuticos realizados como estágio supervisionado da conclusão da especialização em musicoterapia. As sessões de musicoterapia grupal tiveram frequência de uma reunião semanal com duração média de uma hora e trinta minutos, nos meses de outubro e novembro do ano de 2017, acontecendo no Espaço de Vivências Musicais Som na Caixa, instituição de ensino musical na cidade de Fortaleza (CE), cujo projeto pedagógico objetiva a estimulação de vivências musicais criativas e significativas para as crianças;

Ao considerar a importância da música na saúde da criança, as ações musicoterapêuticas buscam a melhoria de questões físicas, emocionais e sociais, oportunizando a autoexpressão, a estimulação cognitiva e motora, contribuindo na manutenção do bem-estar psicológico, no desenvolvimento global e na construção de valores pessoais e sociais, bem como, na melhoria de padrões afetivos, no fortalecimento da autoconfiança, autoestima e convívio social, e, também, na diminuição de tempo ocioso (ZANETTINI; et al, 2015).

Sales (2011) constata que:


A música pode potencializar a expressividade emocional do ser, facilitando a comunicação e a relação interpessoal, promovendo ainda acolhimento e o estabelecimento de relações e vínculos, aumentando a autoestima e proporcionando conforto e bem-estar (SALES; et al, 2011, apud ZANETTINI; et al, 2015, p.1061).


Com base na observação das atividades aplicadas no grupo arregimentado, e no levantamento bibliográfico, o artigo busca apontar quais os benefícios do emprego da musicoterapia preventiva em questões ligadas a saúde física, mental e social da criança, reconhecendo a necessidade de mais ações preventivas junto a faixa etária escolhida que atenda a demanda com uma assistência mais direcionada, propondo a reflexão sobre a atuação terapêutica na infância, no concernente aos aspectos da utilização da música como mediador em terapias e a importância da intervenção musicoterapêutica antes do adoecimento do ser.


2. CONHECENDO A RODA: DESVENDANDO O EMBASAMENTO TEÓRICO DA AÇÃO


E para apresentar os benefícios e discutir as experiências quanto a utilização da musicoterapia preventiva na infância, foi realizada revisão de literatura com coleta de dados secundários em livros e principalmente em artigos publicados em periódicos científicos impressos e disponibilizados em bases de dados eletrônicos.

A definição de saúde tem se tornado cada vez mais ampla ao considerar não apenas a ausência das doenças, mas também a manutenção da qualidade de vida do indivíduo (SCLIAR, 2007), ou seja, seu bem–estar físico, psíquico e social. Na atualidade o olhar dos profissionais de saúde tem se deslocado da doença para o sujeito, estendendo ações que promovam a saúde e previnam o adoecimento (BARROS, 2004, , OSELANE, 2013). Com isso, a busca pelo bem–estar tem conduzido a uma preocupação com práticas preventivas, que atuem antecipadamente garantindo a saúde do organismo.

As terapias complementares protagonizam experiências geradoras de melhoria na qualidade da saúde da população, sendo a musicoterapia uma ferramenta eficaz na prevenção de doenças.

Define-se por terapia, qualquer fator ou agente que ajuda a prevenir, aliviar ou curar doenças ou que melhore a saúde física ou mental (ALTSHULER, 1954). Nesse sentido, a musicoterapia preventiva vem agir antes do adoecimento do organismo. E como salienta Ferreira (2005, p.16), “[...] a música harmoniza a vida das pessoas e é também por isso que sempre damos razão à antiga máxima que afirma: ‘quem canta, seus males espanta’”.

Para a World Federation of Music Therapy (1996):


Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.


A Musicoterapia, especialidade inserida no campo da saúde, utiliza a música como principal instrumento mediador. Benezon (1988) a reconhece como um “campo da medicina”. Medicina em latim é a “ciência e arte de precaver e de curar enfermidades”. Bruscia (2000, p.11) pontua o papel da mesma “para ajudar os clientes a melhorar, restaurar e manter a saúde”. A música, apesar de não possuir propriedades curativas, é considerada como um meio terapêutico eficaz na condução do processo de crescimento direcionado ao bem-estar (BARANOW, 1999).

Estando em evidência as ações preventivas nas políticas de saúde pública, pode-se afirmar, a importância da conscientização sobre a eficácia da musicoterapia como forma de prevenção.

Rodrigues (2011, p.1) afirma:


A Musicoterapia Preventiva é uma nova proposta na área da Musicoterapia, com o sentido de prevenir e não de intervir num determinado sintoma ou uma patologia, ou seja, não tem que existir necessariamente qualquer tipo de perturbação de desenvolvimento, para que possa haver uma intervenção musicoterapêutica.


Atividades preventivas tem sido implementadas com diversos públicos, mas, o público infantil, foco do relato, carece de ações preventivas em diversos aspectos. Antes de entrar na discussão sobre saúde e infância é preciso conceituar o que seja a infância.

A construção do conceito na atualidade envolve valores sociais, econômicos e culturais historicamente construídos que foram se consolidando no século XVIII com o desenvolvimento do capitalismo. O surgimento da burguesia renova o sentido da família como um núcleo hegemônico, privado, aonde a criança, sujeito da infância, se torna responsabilidade dos pais e precisa dos seus cuidados.

A criança, na modernidade, passa a ser vista numa condição diferente do adulto. Para Kramer (2003, ANDRADE, 2010, p.51) à consciência da particularidade infantil, ou seja, aquilo que a distingue do adulto, faz com que seja reconhecido a necessidade da mesma ser tratada de forma diferenciada.

Os conceitos de infância podem apresentar significados diferentes. Nos basearemos em Kuhlmann (2001, apud ANDRADE, 2010, p.55), que defini a infância como condição do ser criança. O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) designa criança toda pessoa até os 12 anos de idade incompletos, evocando o período que se inicia com o nascimento e termina com a puberdade.

O público infantil tem direito a atenção especializada, pois “as crianças são vulneráveis a diversas situações e necessitam ter seu espaço de assistência, principalmente na promoção da saúde, pois o direito à saúde é uma prerrogativa constitucional” (SALES; , 2011, p. 145, ZANETTINI; et al, 2015, p.1061).

Uma das formas de promoção de bem-estar na infância é a utilização da música. Em Musicoterapia, a música é utilizada como forma de restaurar e melhorar o funcionamento físico, cognitivo, emocional e social da criança. Para Wienberger (1999, Rodrigues, 2011, p.1) “as crianças são tidas como possuidoras de invulgares capacidades para perceber e responder às componentes básicas da música (melodia, harmonia e ritmo), pois é evidente que a música está presente nas suas vidas muito antes do falar”.

É cada vez maior o número de especialistas que reconhecem a ação da musicoterapia no desenvolvimento da criança. Mello (2011, p.35) ressalta a contribuição no “desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo e, principalmente, para a construção de valores pessoais e sociais, melhorando a agilidade cognitiva e a capacidade de administrar informações em conflito”.

Podendo promover a saúde da criança, a musicoterapia preventiva exerce influência na saúde emocional e física, bem como nas funções cognitivas, atuando no comportamento, melhorando o humor, sono e autoconfiança, motivando, diminuindo a ansiedade, auxiliando no combate à tensão e na eliminação do estresse (ZANETTINI; et al, 2015, p.1062).

As ações musicoterapêuticas exercem influência no desenvolvimento de determinadas habilidades e atitudes que permanecerão ao longo da vida, podendo também agir antecipadamente prevenindo bloqueios a nível do desenvolvimento global da criança (RODRIGUES, 2011). As atividades aplicadas no sugestionam a estimulação de competências no âmbito sensorial, perceptivo e motor, como no campo da atenção e memória, favorecendo a socialização, sem negligenciar o desenvolvimento do interesse pelo ambiente sonoro musical e da apreciação estética.


3. ENTRANDO NA RODA: A METODOLOGIA EMPREGADA


Considerando os objetivos e a abordagem teórica do artigo em questão, foram desenvolvidas 07 intervenções musicoterápicas, com duração de 1 hora e trinta minutos cada, semanais, nos meses de outubro e novembro de 2017, direcionadas a um grupo de 04 crianças neurotípicas[1], em uma escola de música da região de Fortaleza. A escolha do grupo seguiu apenas o critério da faixa etária, de 08 a 12 anos, estando o convite aberto a comunidade, como aos alunos da escola.

As 07 sessões foram planejadas segundo os seguintes fatores: a avaliação das fichas musicoterápicas; a observação individual na entrevista que foi estruturada seguindo um questionário (anamnese); a observação dos pacientes nas sessões e os perfis das demandas do grupo.

A partir do levantamento, foi possível estabelecer as principais necessidades do público e determinar as atividades a serem aplicadas, bem como as técnicas musicoterapêuticas a serem utilizadas.

Quanto a demanda o planejamento focou nos seguintes objetivos: estimular as competências cognitivas – sentidos, atenção, percepção, memória e criatividade; melhorar a capacidade autoexpressiva; incentivar o aumento da autoimagem e autoconhecimento; favorecer habilidades motoras; estimular habilidades afetivas; estimular a socialização por meio da produção musical em grupo e conscientizar quanto ao outro; sensibilizar através da música e desenvolver o potencial sonoro musical; promover mudanças a nível comportamental; promover o bem-estar e gerar momentos de prazer e satisfação.

As atividades durante cada sessão seguiam o seguinte roteiro:

a) Acolhida - Marcando o início da sessão, esse momento motiva o grupo a participar das atividades do encontro, estimulando também a interação entre os membros, utilizando canções com movimento e palavras de acolhimento. Ainda nessa etapa, perguntas eram dirigidas aos participantes sobre a semana de cada um, bem como menções sobre os conteúdos da sessão anterior.

b) Ativação focada - Agora a atividade proposta direciona o olhar dos pacientes ao foco principal da sessão, conduzindo-os ao tema que será trabalhado ao longo do encontro. Sendo o compartilhamento de aspectos relacionados ao tema essencial entre o grupo, pois, cada um acrescentará a sua experiência quanto ao conceito abordado.

c) Aplicação de técnica musicoterapêutica - Momento ao qual a atividade principal era aplicada seguindo técnicas musicoterápicas tais como: Improvisação, Re-criação Musical, Composição (Bruscia, 2000), Exploração (Barcellos, 2013), e Experiências Receptivas (Bruscia, 2000), dentre outras técnicas grupais como a expressão dramática e o desenho. Objetivando alcançar as demandas inseridas no planejamento de cada sessão.

d) Processamento - Ponto em que os pacientes relembram as atividades vivenciadas na sessão e são estimulados a expressarem verbalmente ao grupo suas reflexões, sensações e impressões. O musicoterapeuta pode intervir verbalmente facilitando o canal de expressão dos integrantes do grupo.

e) Finalização - A sessão findava com a retomada de alguma canção utilizada no encontro, preferencialmente a que mais recorresse ao tema, sendo o grupo convidado a acompanhá-la cantando, tocando e se movendo.


Foram necessárias ações contínuas como a avaliação das sessões e estruturação de técnicas a partir de demandas surgidas, ou seja após cada sessão, a autora, avaliava alguns aspectos do encontro relacionados as atividades propostas e as impressões das respostas dos pacientes, e, traçava algumas estratégias para o próximo encontro. Também, a escuta musicoterápica do grupo por meio das respostas sonoro musicais de cada indivíduo dentro do grupo, o estagiário fez um levantamento de aspectos relevantes no comportamento dos pacientes ao longo das atividades, por meio de registros, a fim de apontar características individuais e demandas futuras. E a avaliação dos progressos junto ao grupo, pontuando as melhorias e benefícios alcançados com os encontros, bem como, compartilhando o levantamento dos objetivos atingidos e mudanças perceptíveis durante o período de atendimento, individual e geral.


3.1. O que usar na roda: sobre as técnicas abordadas


Segundo Cunha (2001) “o musicoterapeuta, através de técnicas específicas, confirma suas suspeitas e utiliza a mensagem para alavancar ou elaborar conteúdos” (p. 47). As técnicas musicoterapêuticas empregadas nos encontros seguiram o critério de escolha segundo as demandas específicas dos planejamentos das sessões e objetivos traçados para as mesmas. Foram elas: Improvisação, Re-criação Musical, Composição, Experiências Receptivas e Exploração.

Para Bruscia (2000), a técnica de Recriação é aquela em que o paciente aprende ou escuta músicas com vocal ou instrumental baseado em um modelo. Essa experiência, normalmente, é indicada para indivíduos que necessitam de uma atividade estruturada, com objetivo de desenvolver comportamento e habilidades.

Na técnica de Improvisação, o paciente cria melodia, ritmo, canção ou peça musical, utilizando-se de instrumentos musicais ou do canto. Normalmente, essa atividade é indicada para estabelecer canais de comunicação, facilitar a auto expressão, senso de identidade, tomada de decisão, explorar os aspectos das relações interpessoais, desenvolver a criatividade e a espontaneidade (BRUSCIA, 2000). Salienta o autor em questão que, na técnica de composição, o paciente cria canções (músicas e letras, peças instrumentais e registra o produto musical).

Dentro das composições, segundo Bruscia (2000), existem cinco variações, das quais uma delas é denominada de paródia de canções. Aqui o paciente substitui frases ou palavras de uma canção composta anteriormente, mantendo a melodia e a harmonia originais. A atividade de composição é indicada para fortalecer a aliança paciente/terapeuta, habilidade de solucionar problemas de forma criativa, lidar com a musicalidade, auto expressão, espontaneidade, autoconhecimento e recuperação da autoestima.

Em Experiências Receptivas, o cliente ouve a música e a responde silenciosamente, verbalmente ou por outras ações. Para Bruscia (2000), a experiência receptiva evoca respostas corporais específicas, explora ideias e pensamentos de outros, estimula o relaxamento pessoal e promove receptividade.

A Exploração Sonora (BARCELLOS, 2013), possibilita a pesquisa de timbres e a descoberta de materiais, envolvendo os sentidos tátil, auditivo e visual, bem como os conceitos de intensidade, duração e altura, propiciando a interação, percepção, escuta ativa e sensibilização sonoro musical.


4. QUANDO EU SAÍ DA RODA – RESULTADOS E BENEFÍCIOS DA MUSICOTERAPIA PREVENTIVA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DA CRIANÇA


Melhorias foram constatadas segundo os objetivos terapêuticos traçados no início do estágio, tendo como base as avaliações das sessões por parte do musicoterapeuta, seguindo aspectos individuais e grupais. Os objetivos terapêuticos foram definidos segundo os seguintes fatores:

a) Avaliação das fichas Musicoterápicas;

b) Observação individual na entrevista;

c) Observação dos pacientes nas sessões;

d) Perfil das demandas do grupo.

E, por um constate acompanhamento do processo musicoterápico, seguindo o exame das sessões, a escuta musicoterápica do grupo e a avaliação dos progressos. Sendo constatados benefícios nos seguintes aspectos:

  1. Cognição: sentidos, percepção, interpretação, atenção concentrada e alternada, memória (história sonoro musical) e criação;

  2. Habilidades motoras: alternância de membros, coordenação de vários movimentos, manipulação fina, lateralidade e orientação espacial;

  3. A expressividade das ideias, opiniões, valores e vontades do grupo;

  4. Melhoria na comunicação de conteúdos afetivos;

  5. Expressividade sonoro musical;

  6. Mudanças no comportamento: social, interação e empatia;

  7. A sensação de bem estar e satisfação por estarem fazendo música.


A musicoterapia criou espaços aos quais as crianças puderam expressar as suas emoções de formas que poderiam ser desconfortáveis fora do s, possibilitando experiências interpessoais positivas, e, estimulou a percepção de si, já que a terapia musical auxilia o indivíduo na conscientização quanto aos sentimentos e vivências internas, oportunizando mudanças significativas.

Descreverei a seguir alguns dos conteúdos relevantes desenvolvidos nas sessões. Os dados apresentados foram coletados e registrados nas fichas avaliativas preenchidas após cada sessão. As 04 crianças serão identificadas por siglas. São elas: E., S., J. e C.

  1. Estimulação de competências cognitivas – sentidos, atenção, percepção, memória e criatividade:

Desde a primeira sessão foi crescente o desenvolvimento de questões cognitivas, levando em consideração que 03 dos 04 pacientes já tem contato direto com a aprendizagem de um instrumento, o que expande a capacidade de cognição do grupo.

Quanto aos sentidos, a exploração dos instrumentos utilizados a cada sessão, permitiu ampla experimentação tátil, auditiva e visual, já que a cada encontro, objetos sonoros de texturas, cores e sonoridades distintas foram apresentados.

Ex. A 3ª sessão enfatizou as sonoridades do cotidiano de cada criança, abrindo a escuta quanto aos sons característicos da rotina da casa. Instrumentos de efeito como: Flexatone, Xilindró, Recobra, Pau de chuva, Carrilhão, tambor d’água, blocos sonoros, apitos, rói-rói, chocalhos e caxixis, puderam ser manipulados. S. e J. demonstraram bastante euforia, trocando rapidamente de instrumentos buscando explorar ao máximo todos, enquanto C. e E. precisavam de estímulo para efetuarem a exploração.

Já a Alternada, observasse em C. e E. uma progressão.

Ex. Na 6ª Sessão ao se propor que cantassem se acompanhando com um instrumento, foi percebido grande diferença em relação ao primeiro encontro, ondes ações se alternavam.

No que podemos observar da Percepção, houveram conteúdos que possibilitaram a interpretação sonoro musical de situações, emoções e pessoas.

Ex. Uma atividade do 6º encontro propôs a relação entre determinados padrões harmônicos e rítmicos, a emoções sentidas, revelando as diferentes visões de mundo de cada participante. Ao ser executado uma harmonia maior em ritmo de valsa, 03 pacientes – E., C. e S.- sinalizaram como algo alegre, enquanto J. como triste.

Na 2ª Sessão A Memória sonoro musical revisitou momentos da história dos integrantes, ficando em destaque a colocação de S.: “Tudo da minha vida lembra uma música. Minha mãe sempre está cantando...”

A Criatividade com certeza é o aspecto cognitivo ao qual percebe-se mais mudanças desde a sessão inicial até o último encontro. J.sempre a demonstrou, criando livremente letra e música, mas, para E. e C., mais tímidas, as paródias ou improvisações livres foram gradativamente ganhando força.

Ex. Na 4ª sessão, ao sugerir a escrita de um acróstico com o nome de cada um, e, em seguida a musicalização do mesmo, todos o fizeram prontamente.


2. Favorecimento de habilidades motoras:

A idade em foco está inserida numa etapa do desenvolvimento motor onde o grau de dificuldade das atividades pode ser maior.

A execução dos instrumentos musicais exige alternância de membros, coordenação de vários movimentos, manipulação fina, lateralidade e orientação espacial.

Ex. Os instrumentos musicais foram sendo dispostos, ao longo das sessões, exigindo gradativamente da motricidade dos participantes, chegando até a 4ª Sessão que utilizara Violão, Sanfona, Violino, Scaleta e Carron.


3. Melhoria da capacidade autoexpressiva e Incentivar o aumento da autoimagem e autoconhecimento:

A expressividade das ideias, opiniões, valores e vontades do grupoalcançou mudanças significativas em alguns utentes.

Ex. Na primeira sessão E., se comunicava verbalmente e sonoro musicalmente de forma tímida e retraída, ficando em silêncio diversas vezes nos momentos de improviso e re-criação, da 3ª sessão em diante, passando a expor mais conteúdo verbal e sonoro musical. Essa sessão foi o ponto máximo de expressividade quando foi dada a cada paciente a oportunidade de reger os demais. Citarei J. que se moveu intensamente, e também oralizou expressões, chegando quase a gritar de forma eufórica. No momento do processamento, todos verbalizaram o quanto se sentiram “felizes e em paz” por estarem liderando o grupo como maestros.

Ex. Uma atividade do 4º encontro, um desenho da casa e de todos que vivem nela, em particular, foi uma oportunidade expressiva ao qual E. pode expressar seu olhar quanto a sua vida.

Quanto ao autoconhecimento S. demonstrou desde o início uma habilidade em lidar com suas emoções, expressando sem dificuldade seu estado emocional em situações cotidianas e suas características individuais.

Ex. Na atividade de composição musical, a partir do nome, foi percebido algumas aferições tidas da ideia de si mesmo, estando presente qualidades apontadas.


4. Estimular habilidades afetivas:

Da primeira sessão em diante, a estimulação da afetividade deu-se por abordagens sonoro musicais, conversas e desenhos. S. e E., demonstraram na sessão 6, que mencionava conteúdos sobre memórias afetivo musicais, melodias usadas por suas mães para os ninarem, S. citou inclusive que sua mãe canta para ele “quando ele está triste”. E. em um encontro cujo conteúdo era sobre a concepção familiar, fez um desenho bastante expressivo sobre sua casa e família. J. mesmo sendo uma crianças bastante expressiva e participativa, não comunicou conteúdos afetivos, bem como a tímida C.


5. Sensibilização através da música e Desenvolvimento do potencial sonoro musical:

A 6ª sessão ocorrida no dia do músico oportunizou reflexões específicas quanto ao papel da música na sensibilização da sociedade, e todos expuseram a importância da mesma em suas vidas.

Ex. S. expôs quão presente a música é em diversos momentos da sua vida, o acompanhando em momentos alegres e tristes.

J.S. e E. são estudantes do espaço que sedia os encontros, sendo S. aluno da estagiária e J. ex aluno da mesma, tendo um contato direto com a música também na Igreja que frequentam. Já C. nunca havia tocado um instrumento, sendo todo conteúdo sonoro musical uma novidade.

Cabe ressaltar, a diferença no comportamento dos estudantes de instrumento no momento da sessão, posicionando-se com mais liberdade sonoro expressiva, sem a preocupação com as regras que os acompanham nas aulas.


6. Promover mudanças a nível comportamental, Estimular a socialização por meio da produção musical em grupo e Conscientizar quanto ao outro:

C. e E., apresentaram nos primeiros encontros muita timidez e retração, sendo notado em E. um aumento da capacidade de comunicar-se quando a consigna sugeria respostas verbais e musicais.

J. e S., em alguns momentos disputavam a liderança e a manipulação de determinados instrumentos, mas, em seguida passaram a cooperar dividindo o uso de instrumentos preferidos, inclusive cedendo quando percebiam o desejo do outro.

Ex. Na 5ª Sessão, instrumentos de teclas como teclado, scaleta e sanfona foram alvo de compartilhamento, como os dois estudam piano, sentem grande interesse por essa classe instrumental.

É importante pontuar a grande empatia entre J. e S., principalmente da parte de J. que demonstra bastante interesse por todas verbalizações de S., sendo diversas vezes curioso o abordando com bastantes perguntas.

C. não demonstrou mudanças significativas em questões comportamentais e sociais.

E. ao longo dos encontros passou também a interagir melhor com o grupo.


7. Promoção de bem-estar e Gerar momentos de prazer e satisfação:

Sendo visivelmente expressado por J. e S. a satisfação por estarem fazendo música, e, timidamente por E. e C. Todos os pais comunicaram a satisfação sentida pelas crianças em participar do grupo.


5. CONSIDERAÇÃO FINAIS


O artigo tratou de transpor a aplicação teórica da musicoterapia preventiva em um grupo de crianças integrantes de um estágio de conclusão da especialização em musicoterapia, destacando os benefícios das intervenções planejadas. A experiência relata alguns pontos relevantes da atuação da música na promoção de uma vida saudável na infância, desvelando as contribuições que a musicoterapia preventiva proporciona no desenvolvimento e na qualidade de vida das crianças em idade escolar.

Foi possível observar, segundo a avaliação das atividades propostas nos encontros musicoterápicos, que a relação terapêutica mediada pela música abre portas para a expressão, autoconhecimento, interações sociais, desenvolvimento da criatividade, exploração e experimentação. Podendo se considerar satisfatório o alcance dos objetivos delineados, segundo as demandas identificadas. Vale ressaltar que um dos pacientes teve um processo terapêutico menor, devido ausências, limitando a avaliação de determinados aspectos, já que não participou de todas atividades propostas.

Sendo a musicoterapia apta a proporcionar um espaço lúdico e seguro permitindo a criança expressar e partilhar sentimentos, participando ativamente, seja realizando as atividades propostas, seja contribuindo nos conteúdos abordados durante as sessões, o trabalho, portanto, apontou a relevância da musicoterapia preventiva na promoção do viver saudável junto ao público infantil, atuando e contribuindo para a melhoria significativa da qualidade de vida e bem-estar do grupo atendido.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTSHULER, I. M. . PODOLSKY, Edward (ed.), New York: Philosopenical Library,1954.

ANDRADE, L.B.P. Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 193 p. ISBN 978-85-7983-085-3. Disponível em: <http://books.scielo.org>.

Acesso em: 05 jan.2018.

BARANOW, A. L. von. Musicoterapia- uma visão geral. Rio de Janeiro: Enelivros, 1999.

BARCELLOS, L.R.M. . 2013.

BENEZON, R. .3ªEd. São Paulo: Summus, 1988.

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de

julho de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002. Disponível em: Acesso em: 05 jan.2018.

BRUSCIA, K.E. . 2ª Ed. Rio de Janeiro, Enelivros, 2000.

CUNHA, R. . do III Fórum Paranaense de Musicoterapia, II Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia. Organização AMT/PR. Curitiba: 2001, p. 45-48.

DAMASCENO, M.J.C.F; . A contribuição da musicoterapia na saúde do idoso. Rio de Janeiro, Ed.20, p. 85 – 94, dez., 2012.

FERREIRA, M. . São Paulo: Contexto, 2005.

MELO, M. .

Campos dos Goytacazes-RJ: Venletrarte, 2011.

OSELANE, M.N. 105f. Dissertação (mestrado) –Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e ecologia Social – EICOS, Universidade Federal do Rio de Janeiro,Rio de Janeiro, 2013.

RABELLO, L.S. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2010. 228 p. ISBN: 978-85-7541-352-4. Disponível em: <http://books.scielo.org>. Acesso em: 05 jan.2018.

RODRIGUES, C.C. 2011. Disponível em : <http://felicityterapias.blogspot.com.br/2011/06/musicoterapia-preventiva-na-primeira.html> . Acesso em: 23 out.2017.

SCLIAR, M. História do conceito de saúde, Rio de Janeiro, 17(1), p. 29-41, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a03.pdf. Acesso em: 20 dez. 2017.

ZANETTI, A; SOUZA, J.B.D.;FRANCESCHI, V.E.; FINGER, D.; GOMES, A.; SANTOS, M.S.D. Quem canta seus males espanta: umrelato de experiência sobre o uso da música como ferramenta de atuação na promoção da saúde da criançaSanta Catarina, v. 19 (4) ,p.1060-1064, out./dez., 2015.

[1] Aquele que aparentemente não é acometido por nenhuma psicopatologia, isto é, doença, síndrome ou qualquer prejuízo de ordem mental.

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