top of page

Nana neném: um relato de experiência sobre o emprego da musicalização na rotina de cuidados, sociali


Resumo: O presente relato de experiência tem como base a observação do emprego da musicalização na rotina de cuidados, socialização e brincadeiras, numa classe de berçário em regime integral de uma escola particular em Fortaleza- CE. O projeto foi desenvolvido num período de 04 meses, abrangendo bebês na idade de 04 a 11 meses, com intervenções feitas pela professora de musicalização em diversos momentos da rotina diária do berçário em questão. A musicalização foi empregada através de várias atividades musicais dirigidas pela educadora musical num período de 15 a 20 min cada, durante a execução de alguma rotina com as crianças menores, tais como: troca de fraldas, banhos, refeições, brincadeiras coletivas e hora de repousou. O relato traça uma tentativa pessoal de tornar a musicalização um agente mediador entre a criança e os seus cuidadores, bem como, um auxiliador no processo de adaptação e integração da mesma no ambiente escolar, e, principalmente, viabilizar para a pequena infância uma prática musical que agregue, através do uso da música , valores ao seu desenvolvimento global.


Palavras-chave: Educação infantil, musicalização, pedagogia da música.



O contato do bebê com o mundo dos sons dar-se antes mesmo do seu nascimento, quando ainda no útero materno inicia sua musicalização ao ouvir o ritmo constante das batidas do coração de sua mãe. Soares (2008) afirma que: “desde a vida intra-uterina, o bebê é cercado por um ambiente sonoro, convive tanto com ruídos externos quanto com os sons interiores causados pelo funcionamento do corpo da mãe e pela sua voz” (SOARES, 2008, p.80).

Mesmo após o seu nascimento, o som continua a ser um dos veículos comunicativos entre a criança e o mundo, pois, a mesma, é inserida numa “superfície multi sonora”. Ao longo do dia o bebê é exposto a um universo de sons emitidos por aparelhos de T.V, telefones celulares, notebooks e diversas outras mídias. Os sons, também, seguem a trilha cotidiana acompanhando o bebê em idas ao supermercado e ao shopping, dando o tom a qualquer ambiente em que haja pessoas.

Os bebês respondem positivamente e instintivamente a todos os estímulos auditivos a que são expostos (ILARI, 2002). Beyer (2005) indica que “a exploração sonora do bebê contempla todos os parâmetros sonoros, mas que vai variar conforme o contexto sonoro-musical em que o bebê está inserido” (BEYER, 2005, p. 101). Eles gostam de dançar ao som do toque do celular da mamãe, fazem sons com objetos, saltam com músicas que conhecem bem, sempre interagindo com toda musicalidade ao seu redor.

E foi a partir da observação do crescimento desse público em escolas de educação infantil, que surgiu o meu interesse de implantar um trabalho de musicalização em um berçário recém- formado na escola em que trabalho há sete anos. Observei que a escola poderia ter uma participação ativa no processo de construção sonora- musical do bebê, ao incorporar aos seus berçários atividades e experiências musicais em seu programa diário, inserindo a música na rotina de cuidados, brincadeiras e socialização.

Ao introduzir a música na rotina com os bebês, a escola atribui ludicidade as atividades repetitivas e corriqueiras, pois , “a música como uma atividade lúdica tem o poder de proporcionar à criança uma estimulação da fantasia e do pensar, e possibilitar-lhe uma participação ativa” (CARVALHO, ALVES, GOMES - 2002).

A música também age como agente fortalecedor do vínculo afetivo entre o cuidador ( professor) e a pessoa cuidada, pois ela estimula a sensibilidade e o amor. (JANNIBELLI, 1971, p. 22).

Cabe ressaltar, que a musicalização tem um papel vital na formação global da criança, indo além da formação de repertório ou na especialização em um instrumento. Segundo BRITO (2003, p.46), “a educação musical não deve visar a formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à formação integral das crianças de hoje”.

Tendo em mente esses fundamentos teóricos, formulei algumas atividades musicais que foram integradas a rotina do berçário de uma escola particular situada em Fortaleza – CE. Durante 04 meses as atividades foram dirigidas, por mim, a um grupo de 07 bebês com idade de 04 a 11 meses. As atividades duravam de 15 a 20 min, 03 vezes por semana . Os bebês por estudarem em regime integral, contavam com o acompanhamento de suas professoras( 04 no total ).

Segue-se agora, um relato mais específico da minha experiência com musicalização integrada a rotina do berçário.


Experiências musicais: música como parte da rotina de cuidados, brincadeiras e socialização.


Ao implantar a musicalização no berçário, o meu desejo foi estender o uso da música como ferramenta educacional pr’além das aulas específicas de musica, aproveitando os seus benefícios em conjunto a outras atividades que fazem parte da rotina dos bebês .

O cronograma foi criado em cima da observação do 1º mês de implantação da classe. Tanto observei, como ouvi os professores. Foram detectadas dificuldades quanto, a adaptação com o novo ambiente, com os cuidadores e com algumas rotinas (banho, refeições, troca de fraldas). Criei um cronograma mensal com três intervenções semanais em alguma rotina específica, empregando uma atividade musical direcionada a mesma.

Segue o cronograma do 1º mês e o detalhamento de suas atividades, bem como, algumas observações que fiz durante a execução das tarefas.


FIGURA 1 – Cronograma de atividades do 1º Mês.


A primeira atividade musical - Caixa de Música - foi ligada ao Acolhimento. Repeti semanalmente essa atividade, devido a constatação de ser esse o período de maior stress entre as crianças. Durante os primeiros 20 min de aula posicionei no centro do saguão de entrada do berçário uma “caixa surpresa” com diversos instrumentos musicais idiofônicos como: caxixi, chocalho, ganzá e sino. Esses instrumentos foram escolhidos pela sua facilidade de manipulação e emissão de sons. Os bebês eram colocados no colo ou sentados diante da caixa, onde eram conduzidos por mim ou por uma professora, a executar um instrumento. Um aparelho de som reproduzia um repertório de cantigas de roda, servindo de base rítmica para o acompanhamento dos bebês.


FIGURA 2 - Instrumentos utilizados na caixa de música.


Observei que o contato com a música através da execução dos instrumentos gerou momentos agradáveis que ajudaram a reduzir a angústia, ansiedade ou impaciência, centrando a atenção da criança longe do seu desconforto, proporcionando a mesma, momentos produtivos e criativos. No aspecto da música propriamente dita, percebi que ao trabalhar a execução desses instrumentos acompanhados das cantigas de roda, trabalhei conceitos como: pulsação, ritmo e memória rítmica. No que envolve a formação global da criança foi trabalhado: expressão corporal e socialização.

A segunda atividade – O que é que tem na sopa do neném? – no momento antecedente a alguma refeição, dirigi brincadeiras que envolviam imitação e exploração de outras sonoridades. Usando utensílios de cozinha: colheres, panelas, copos e pratos, executava um padrão rítmico e melódico de acordo com a altura e timbre do objeto, sugerindo que os bebês imitassem. A exemplo:

FIGURA 3 – Exercício com utensílios de cozinha.


A atividade conduzia os bebês a descobrirem novas sonoridades, ao explorar e manipular os objetos de diversas maneiras, potencializando a percepção de diferentes sons em diferentes execuções, descobrindo combinações entre som e execução. Brito afirma que “as crianças devem ser estimuladas a pesquisar materiais e objetos que produzam sons interessantes, pois, antes de construírem instrumentos musicais, elas os descobrem em materiais que se transformam a um simples toque”. (BRITO, 2003, p. 72).

Nesse exercício explorei conceitos de: altura sonora, mudança de intensidade e duração, memória rítmica e melódica, como também: coordenação motora, linguagem oral e expressão.

A terceira atividade – Nanan Neném – no momento de repouso, contou com um repertório escolhido através de uma entrevista enviada aos pais, por escrito, indagando sobre quais canções eles cantavam para “ninar” seus filhos. Com o nome das canções em mãos, selecionei as que seriam usadas, executando o repertório durando 20 min. Cabe ressaltar, que procuramos (professoras e eu) embalar cada criança nos braços cantando ao “pé do seu ouvido” a canção que seus familiares usavam em casa. Segundo Ilari, ao ouvir canções, é desenvolvida na criança menor esferas afetivas, sociais e cognitivas:


O hábito de cantar e dançar com bebês e crianças, presente em praticamente todas as culturas do mundo, auxilia no aprendizado musical, no desenvolvimento da afetividade e socialização, e também no progresso da aquisição da linguagem (ILARI, 2003, p. 14).


FIGURA 4 - Discografia utilizada.


Na Troca de Fraldas - Troca, troca- e no Banho –Tchibum da cabeça ao bumbum – procuramos através da interação lúdica e dinâmica possibilitada pelo canto, aprofundar o relacionamento entre cuidador (professor) e criança, bem como, entre várias crianças simultaneamente. Ao trocar e vestir bebês cantando, o cuidador abre um canal de conversação que envolve facilmente várias crianças. Esse fato é atribuído ao conceito de “Musicalidade Comunicativa” do bebê: “habilidade inata e universal que se ativa ao nascimento, vital para a comunicação entre as pessoas, que se caracteriza pela capacidade de se combinar o ritmo com o gesto, seja ele motor ou sonoro” (MALLOCH, 1999/2000; MALLOCH e TREVARTHEN, 2009). Usamos um repertório com uma coletânea de canções que falavam sobre o corpo, percebendo por suas reações - sorrir, se mover, bater palmas, tocar na parte do corpo citada – que a música possibilita o estabelecimento de uma comunicação direta e fluída com o bebê.

No Banho de Sol – Vamos Passear! e nas Brincadeiras – Ciranda, cirandinha – a musicalização proporcionou experiências sociáveis mediante dois brinquedos cantados, Vamos passear no bosque e Ciranda, cirandinha. Ao cantar, dançar e brincar, em roda, as crianças fomentam valores tais como: tolerância, cooperação, respeito e harmonia, aprendendo que são parte de um grupo, sendo cada membro indispensável ao conjunto.


FIGURA 5 - Atividades aplicadas.


Nesses quatro meses, a musicalização tornou-se uma linha que entrelaçou e percorreu a rotina dos bebês envolvidos, dando continuidade a um processo de sensibilização musical iniciado desde o ventre materno, melhorando a qualidade do seu cotidiano no berçário e contribuindo na sua formação como ser humano. A musicalização, também, foi descoberta como uma importante ferramenta pedagógica a ser utilizada pelos professores dessa faixa - etária.

O uso da música no programa diário do berçário traz um impacto positivo na vida dos bebês promovendo o desenvolvimento de habilidades em áreas diversas, envolvendo e oferecendo muitas oportunidades de interações agradáveis e criando um ambiente harmonioso e feliz fazendo do seu dia-a-dia na escola uma alegre e envolvente brincadeira de roda.



Referências:

BEYER, Esther. (Org.). O som e a criatividade: reflexões sobre experiências musicais. Santa Maria: Ed. UFSM, 2005.

BRITO, Teca Alencar. Música na educação infantil. São Paulo, Peirópolis, 2003.

CARVALHO, A. M.; ALVES, M. M. F.; GOMES, P. L. D. (2002). Brincar e educação: concepções e possibilidades. Revista Psicologia Estudo, v.10, n.2, pp.217-226.

ILARI, Beatriz Senoi. Bebês também entendem de música: a percepção e a cognição musical no primeiro ano de vida. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 7, 83-90, set. 2002.

______. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 9, 7-16, set. 2003.

JANNIBELLI, Emilia d´anniballe. A Musicalização na Escola. Lidador, 1971.

MALLOCH, S. Mothers and Infants and communicative musicality. Musicae Scientiae, Special Issue, p. 29-57, 1999/2000. Disponível em: http://njmt.b.uib.no/2010/02/15/

communicative-musicality/. Acesso: 15 mar de 2012.

SOARES, Cíntia Vieira da Silva. Música na creche: possibilidades de musicalização de bebês. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 20, 79-88, set. 2008.

TREVARTHEN, Colwyn. Learning about ourselves from children: why a growing human brain needs interesting companions. Disponível em: www.perception- naction.ed.ac.uk/PDFs/

Colwyn2004. Acesso em: 15 mar de 2012.






Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page