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Na trilha do conto: quando a história ensina música.


A música está presente em diversas formas narrativas como elemento ativo e fundamental na condução de determinados enredos. A encontramos na ópera, no teatro, nas tele-novelas e em filmes, agregando elementos a uma trama, sendo sua presença sentida e requerida naturalmente, ante a capacidade sinestésica do homem em associar som à imagem e vice versa ( CAZNOK, 2003 ) .

Desde as trágicas narrativas da Grécia antiga, até os dramalhões novelescos da atualidade, é inimaginável uma cena sem a presença de uma trilha sonora, pois, “a música, associada a um texto ou a uma imagem, pode ganhar significados e / ou participar ativamente de estruturas narrativas” ( BATISTA, 2007 ), já que a mesma, transporta o público a ambientes diferenciados, e, conduz emoções, soma características aos personagens e as ações, emoldurando o caráter psicológico e temporal de uma história, ambientalizando-a.

No ambiente escolar, especificamente em aulas de musicalização infantil, as relações de interação sempre presentes entre música e conto, despertaram na autora um olhar reflexivo sobre a utilização dos elementos sonoros e visuais no desenrolar de determinadas narrativas, bem como, a integração desses elementos, assim como no cinema, teatro ou publicidade, colaborando na condução de um discurso estabelecido, promovendo o interesse e o engajamento das crianças em temas musicais fixados ao enredo da história.

Partindo da visão de Suzuki sobre o processo de musicalização ocorrer de uma “imersão da criança no meio musical”, observa-se ser a contação de história com trilha sonora um instrumento lúdico que propicia esse mergulho, pois, ao ouvir sons, ver imagens e adereços, durante uma narrativa, a criança é transportada para essa fantasioso mundo da música, e ao estar inserida nele se apropria de seus elementos componentes, visto que “a música como uma atividade lúdica tem o poder de proporcionar à criança uma estimulação da fantasia e do pensar, e possibilitar-lhe uma participação ativa” (CARVALHO, ALVES, GOMES - 2002).

“Acredita-se que ao acionar o mundo mágico da criança a partir da história, aciona-se também a receptividade da criança e a sensibilidade ao mundo sonoro” ( SCHUNEMANN, 2010 ). A leitura de um conto está próxima de uma audição musical, pois ambas transportam os pequenos a um campo imaginativo onde uma nova realidade é construída e explorada.

Torna-se relevante ao educador musical compreender as articulações entre a narrativa sonora e a narrativa visual como importante ferramenta de prática pedagógica no processo de aprendizagem musical na infância, já que, o emprego de trilha sonora nas contações de histórias, impulsiona uma melhor assimilação e fixação de conceitos musicais, tais como melodia, harmonia, ritmo, dinâmica, timbres, texturas, formas, gêneros e estilos.

Referências teóricas quanto a funções da música no cinema, como o autor André Baptista (2007) que postula em favor da elaboração de uma narrativa sonora que facilite a interação com a narrativa visual, e, também, os estudos de Yara Borges Caznók ( 2003 ) sobre as ligações e associações entre som e imagem, e, favorecendo-se da abordagem Bakhtiniana relativa ao dialogismo, especificamente ao conceito de intertextualidade, trazem luz a aplicação de histórias sonorizadas como Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Cachinhos Dourados, os Três Porquinhos e A História da D. Baratinha no contexto da educação musical.

Na trilha sonora de cada história os conceitos musicais são impressos, por meio do repertório popular, canções infantis e sonorização executados ao longo da performance narrativa. A Construção do arranjo, a instrumentação aplicada, as formas de execução, são alguns dos elementos condutores, mediando a percepção das crianças quanto os elementos integrantes de uma peça musical, bem como, despertando o interesse das mesmas a buscarem identificar tais elementos fundamentais a música.

Os resultados demonstram que as relações entre música e histórias infantis compartilham propriedades comuns e complementares, sendo caracterizado pela interdependência mútua. A Música que então fora inserida em uma história infantil para ajudar na compreensão e interpretação da mesma, acaba recebendo em troca bases figurativas que auxiliam na fixação de seus parâmetros, revelando ser a música mais que um background do conto, e, sim, um sujeito que apropria-se da história como uma moldura que fixa e dá suporte a sua exposição.

Confira o esquema com a apresentação de 02 propostas dentro das perspectivas expostas no texto.


ESQUEMA : CONTOS / CONCEITOS MUSICAIS

1. CHAPEUZINHO VERMELHO

CONCEITO MUSICAL: Andamento

PERSONAGENS:

Chapeuzinho = Moderatto / Vovó = Andante / Lobo = Presto

TRILHA:

*Canções para cada personagem

Chapeuzinho - Pela estrada a fora;

Vovó – Alecrim;

Lobo – Eu sou o lobo mau.

*Sonorização de trechos da história com instrumentos percussivos, e, ou, melódicos, e, ou, harmônicos.

2. CACHINHOS DOURADOS

CONCEITO MUSICAL: Altura

PERSONAGENS:

Pai Urso = Grave / Mãe Urso = Médio / Filho Urso = Agudo

TRILHA:

* Uma canção tema que vai ser repetida em registros diferentes, por um Instrumento que tenha tessitura abrangente ou por uma família de instrumentos de alturas diferentes.

* Sonorização com objetos que imitem utensílios domésticos (que emitam sons de alturas distintas)



Consulta Bibliográfica:

BAPTISTA, André. Funções da música no cinema: contribuições para elaboração de estratégias composicionais.

Disponível em: http://www.musica.ufmg.br/sfreire/depot/DISSANDREBAPT.pdf

CARVALHO, A.M.; ALVES, M.M.F.; GOMES, P.L.D. Brincar e educação: concepções e possibilidades.

Psicol. estud., v.10, n.2, p.217-26, 2005.

Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722005000200008.

CAZNÓK, Yara Borges . Música: ente o audível e o visível. Ed. UNESP, 2003.

DRUMMOND, E.M.Música e literatura em diálogo. Fortaleza: LMiranda Publicações, 2009.

Disponível em: http://www.elviradrummond.com.br/n_art_encantodoconto.html

SCHUNEMANN, Anelise Thonnings . Música e Histórias infantis: o engajamento da criança de 0 a 4 Anos nas aulas de música.

Disponível em:

http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/revista26/revista26_artigo10.pdf

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